tag:blogger.com,1999:blog-65544401381320496542024-02-08T08:58:13.360-03:00blag, blergh, blogBraitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.comBlogger47125tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-47154028344523368332017-01-16T12:00:00.000-02:002017-01-16T12:00:03.992-02:00[Correio] O silêncio e a sanidadeA cada reportagem no site do <i>Correio </i>sobre minorias sociais, étnicas ou sexuais, o comportamento se repete. Nas caixas de comentários do Facebook, os reis de curtidas costumam ser as variações mais rudimentares de “obrigado por não mudar minha vida”, “mas tem que ver a verdade disso aí”, “por que não falam sobre os homicídios do homem branco heterossexual?”.<br />
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A esse comentarista, uma má notícia: tamanha ojeriza por determinado assunto te mantém sitiado. Os algoritmos que fizeram do Facebook a rede social mais movimentada do mundo constroem suas bolhas de conteúdo baseadas no interesse do usuário — e, como qualquer robô, são incapazes de entender se sua relação é de amor ou ódio com aquele tema. Em termos práticos, quanto mais você xingar dinossauros, mais vezes eles estarão na sua tela.<br />
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Essa tendência se reforçou desde o fim da semana passada, quando o Facebook fez a primeira grande atualização do algoritmo em 2017. Agora, o conteúdo exibido na linha do tempo do usuário virá principalmente das ações dos amigos, deixando menos espaço para as páginas que não patrocinem conteúdo. Em termos práticos, se você seguir xingando dinossauros depois disso, mais vezes ainda eles estarão na sua tela.<br />
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Nossos hábitos de navegação alimentam essa bolha. Se eu e você temos os mesmos 500 amigos, o que curtimos e comentamos fará com que, em poucos dias, apareça um conteúdo totalmente diferente para cada um. Eis a bolha em funcionamento.<br />
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Depois que entendemos o funcionamento dela, a existência não se torna necessariamente ruim. A bolha surge para preservar nossa sanidade mental. É algo que sempre existiu — ou nossos avós escolhiam seus compadres priorizando a falta de afinidade? —, mas agora é manipulada por programadores que se aproveitam do sistemático furto dos dados pessoais que colocamos à disposição dos gigantes da tecnologia global.<br />
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O efeito irremediável dos insultos do Facebook é o de te integrar na bolha alheia. Como no último dos <i>Doze contos peregrinos</i> de Gabriel García Márquez, cada comentário publicado é como um rastro de sangue deixado na neve. E pode ser tarde demais quando for descoberto o motivo da hemorragia.<br />
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<i>Artigo publicado no Correio Braziliense de 16 de janeiro de 2017</i>Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-15430466106456284662017-01-09T12:00:00.000-02:002017-01-13T20:25:51.184-02:00[Correio] A culpa é da corrupçãoPor que não percebemos que dezenas de detentos estavam prestes a morrer degolados por causa da disputa de poder entre as duas maiores facções do crime organizado brasileiro? Os clãs que dominam as cadeias do país haviam rompido, em outubro, seu curioso acordo de paz. No mês seguinte, uma governadora foi ignorada pelo ministro da Justiça ao pedir apoio urgente. Essas cartas e tantas outras estavam à mostra, mas ignoramos o rumo do jogo.<br />
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Estávamos unidos ao não notar a estruturação dos massacres do Norte. Passou batido da sociedade, de nossas entidades representativas e de nossos investigadores. Só depois da primeira carnificina, a de Manaus, a Procuradoria-Geral da República teve a ideia de investigar o sistema penitenciário de quatro estados. Uma ação de marketing, típica do Executivo, em pleno Judiciário.<br />
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E a culpa é da corrupção. Sim, ela, a onipresente senhora das páginas de jornal e de revista, dos minutos de TV, das conversas de botequim e das exaltações infinitas em cada família brasileira a cada fase da Operação Lava-Jato.<br />
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O holofote mantido sobre os desvios bilionários e a apropriação da coisa pública levantaram uma cortina de fumaça capaz de impedir que qualquer outro tema ganhe espaço como debate nacional. Que a corrupção seja repudiada, perseguida, esconjurada. Mas a busca incessante da sociedade por heróis e vilões, 24 horas por dia, é que permite que o país saia andando sem que a babá eletrônica esteja ligada.<br />
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Acabamos assustados quando a edição de uma medida provisória virou do avesso o ensino médio? É porque não notamos que esse rumo vinha sendo tomado desde o desmanche do Conselho Nacional de Educação. Os investidores se surpreenderam com a entrega de campos do pré-sal a multinacionais em menos de um semestre de governo Temer? Faltou atenção ao texto da Ponte para o futuro e seus desdobramentos.<br />
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Os exemplos valem para a PEC do teto de gastos, a reforma da previdência com privilégios de classe mantidos, a precarização que bate à porta com a “modernização” das relações de trabalho. Enquanto o Brasil andava, a população se debruçava nas impraticáveis 10 medidas contra a corrupção, transformada pelo Congresso Nacional em 10 medidas nem tão desfavoráveis assim à corrupção. Em suma, tanta discussão para nada.<br />
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Você odeia, eu sei, a corrupção-sistêmica-que-aflige-a-política-brasileira-desde-os-tempos-do-império tanto quanto qualquer outro brasileiro-que-trabalha-5-meses-para-pagar-imposto. Mas deixo aqui uma proposição que possa ser seguida por algum tempo: até o dia 31, deixemos de pensar em planos e punições infalíveis contra a corrupção. Só um pouco, o suficiente para que deixemos de ser pegos de surpresa. E então, quer falar de quê?<br />
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<i>Artigo publicado no Correio Braziliense de 9 de janeiro de 2017</i></div>
Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-85885417428054629022017-01-02T12:00:00.000-02:002017-01-13T20:23:49.262-02:00[Correio] Que 2017 seja flictsAs primeiras horas do ano-novo podem ter te surpreendido: tirando a ressaca de praxe, nada mudou. A segunda-feira que abre 2017 é só mais um dia que nasce depois de o <i>Fantástico </i>se por. O sadismo de 2016 segue à espreita, com a ameaça velada de que o novo ano pode ser ainda mais incômodo.<br />
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Este 2017 servirá para entender a extensão da parceria entre Donald Trump e Vladimir Putin. Será o ano de Marine Le Pen na França, de Geert Wilders na Holanda, da ameaça populista Nicolás Larraín no Chile. Da mundialização do Estado Islâmico, do estouro da bolha imobiliária chinesa, do esgotamento da política monetária do Banco Central Europeu.<br />
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E os problemas lá de fora continuarão a nos acossar — como se fosse necessário. No ano em que ainda mais estados terão dificuldade para pagar o funcionalismo, testemunharemos o ápice do desemprego, as greves inevitáveis por causa das negociações salariais paralisadas, o PIB provavelmente em queda por mais um ano. E o Brasil terá de fazer as contas com qualquer que seja a decisão do Tribunal Superior Eleitoral no processo que pode tirar Michel Temer da presidência.<br />
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Num mundo dominado por caixas de comentários do Facebook e grupos de WhatsApp, não haverá como fugir do acirramento que virou o tal “Fla-Flu político”. Ainda que, em tantas famílias e reuniões de amigos, o confronto esteja mais para Al Ahly x Zamalek, o clássico egípcio que registrou feridos e presos em todas as partidas desta década.<br />
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Mas nada é só preto. Nada é só branco. Para além do dualismo infrutífero, surge uma zona cinzenta, na qual estamos todos, escritor e leitor, nossos heróis e vilões. E deve haver, sobretudo, a zona flicts, longe desse matiz intermediário.<br />
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Flicts é aquela cor frágil, rara, criada por Ziraldo há meio século para protagonizar o primeiro livro infantil do cartunista que se consagraria com o <i>Menino Maluquinho</i> e a <i>Turma do Pererê</i>. Flicts não conseguia se encaixar em arco-íris, bandeiras, lugar nenhum. A história mostra a saga de uma cor em busca de seu lugar no universo.<br />
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Nem só de petralhas é composta a esquerda; a direita vai além dos barulhentos bolsominions. E entre as duas há uma lacuna muito maior do que o centro isentão. Você é flicts.<br />
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Para os de exatas, Flicts é a combinação 212,145,38 na escala RGB. Para quem é de humanas mesmo, é um tom pastel, baunilha meio escuro, talvez amarelo-queimado, com um toque de açafrão, um quê de cobre. Cada pai teve uma resposta diferente para o “que cor é essa?” dos baixinhos que não aceitavam flicts enquanto nome de uma tinta, exigindo uma palavra consagrada pela escala Pantone. Flicts é a cor de todos nós, ainda que não a enxerguemos. Que seja o tom de 2017.<br />
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<i>Artigo publicado no Correio Braziliense de 2 de janeiro de 2017</i></div>
Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-76113350172944287162014-11-06T15:05:00.002-02:002017-01-13T20:28:57.176-02:00Minas vai parar? Conta outraNão se deixe levar por quem diz que Minas Gerais "vai parar" nos próximos dias, como se o estado mergulhasse numa inércia disposta a acabar só depois de extinta a última faísca da decisão da Copa do Brasil (doravante denominada Copa das Minas Gerais).<br />
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Em primeiro lugar, o desajuizado que condena as alterosas à letargia enquanto durar o duelo entre Atlético e Cruzeiro demonstra desconhecimento das Minas Gerais, esse território imaginário que começa no interior de Mato Grosso do Sul para acabar numa praia qualquer entre a Bahia e o Espírito Santo. Em segundo, sabe-se lá se essa faísca um dia há de sumir.<br />
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Acusar uma paralisação mineira em pleno ambiente de decisão da Copa das Minas Gerais significa ignorar o comércio de bigodes e perucas, setor que espera um crescimento exponencial até o fim de novembro. Desprezar a venda de camisetas azuis, brancas, pretas, brancas, azuis e brancas, pretas e brancas. Desmerecer a luta por um ingresso que leve às pelejas do Horto e da Pampulha. Desacreditar todo o debate que, porventura, se encerrar num bar em Januária ou em Sete Lagoas.<br />
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Minas, locomotiva do futebol brasileiro, capaz de revelar seus Tostões e Reinaldos e redescobrir-se com Willians e Luans, nunca vai parar. Em cada um de seus 853 municípios, há quem acredite, há quem combata; e esses tipos foram exportados até mesmo para terras em que seja impossível encontrar polvilho. E Minas não parou nem quando seus filhos ficaram tão distantes de um ingrediente tão essencial quanto enjeitado do pão-de-queijo.<br />
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Novembro de 2014 ficará para a história como o mês em que o polvilho — seja o doce, seja o azedo — ultrapassou as fronteiras das alterosas, fez seu o Brasil e enfim desembarcou em Nova Jérsei. Como se Minas Gerais precisasse de uma prova de força maior do que a de 2013, quando só não tomou conta do mundo por um tropeço do destino e outro de Ronaldinho, filho varão devidamente mandado para descansar no interior do México.<br />
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Minas ferve desde ontem, quando descobriu-se sede da Copa das Minas Gerais. Só vai cogitar descansar em dezembro. E nem o pequeno lado verde, se é que restou algum, conseguirá ignorar o que está acontecendo naquele que já foi seu alpendre.<br />
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<i>Artigo publicado no Estado de Minas</i>Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-680192631637421572013-04-23T00:02:00.001-03:002013-04-23T00:02:50.604-03:00Onésio e DoloresEmbaralhada pelo Alzheimer, Dolores corrompia as lembranças a cada nascer do sol. Conservou poucas memórias. Essas, de tão reais, revisitava logo ao abrir os olhos. E sorria sempre ao ver Onésio, aquele jovem rapaz da cidade, chegar a cavalo, mais nítido que qualquer reminiscência de 73 anos. E o moço, cortês, não hesitava em retribuir o gesto.<br />
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Companheiro diligente, Onésio jamais saía da sela. Tudo pelo bom sorriso de Dolores. Assim, visitava a roça dezenas de vezes por dia e outro punhado à noite. Quando a lua acendia, Dolores pensava naquele homem. Sumira sem ela perceber. Dos rastros e ciumeiras, só mesmo as lembranças. Parada, voltava a enxergá-lo. Sorria.<br />
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Conhecia o amado, não pretendia vê-lo enfastiado. Por isso, todas as noites, se revoltava pela primeira vez com o velho corcunda que vinha deitar-se a seu lado. Onésio vai voltar, te matar e me levar junto, anunciava. O senhor saía sorrindo para o sofá, velava de lá a alienação alheia.<br />
<br />
Até o momento em que o jovem Onésio realmente voltou. Buscou Dolores pela mão e ela se foi, feliz. O velho ruiu na cama pela primeira vez em tantos anos. Deixou-a somente ao notar que uma jovem de vestido de flanela listrada o convidava para acompanhá-la. Que belo sorriso, pensou.Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-21833831597781009862013-03-18T02:22:00.001-03:002013-03-18T02:29:12.797-03:00Vírgulas self-serviceCaminho infinito pensamento absoluto desejo sereno saber estúpido desvio súbito medo delicado sinal repentino juízo abafado beijo inocente carinho intenso sorriso óbvio.Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-85711212422993528462013-02-13T01:42:00.001-02:002013-02-13T01:42:15.398-02:00Era feriadoÓ, frustração<br />
Alarme algum<br />
Tarde acordar<br />
Ir pra tevê<br />
Não ter FaustãoBraitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-58522828013916703752013-01-24T03:31:00.001-02:002013-01-24T03:31:09.791-02:00Haicai (5)<p>À parte esse aperto<br>
Pulsa além d'alma o denodo<br>
Sábio desacerto<br>
</p>
Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-81380003589048979242013-01-22T04:21:00.001-02:002013-01-24T03:37:21.036-02:00Haicai (4)<p>Fulminante é o raio<br>
Tira o sono, aflige o peito<br>
E vai-se de soslaio</p>
Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-82724120676814747542013-01-19T03:21:00.001-02:002013-01-19T03:50:07.382-02:00Três pedidos<p>Marluci encontrou uma lâmpada mágica esquecida entre duas seções do sex shop. Vazia, empoeirada e em busca de algum esfregador, as duas. Escondeu-a na bolsa enquanto tentava encomendar mentalmente três pedidos.</p>
<p>Prioridade era um romance à Anastasia Steele, lhe parecia óbvio. O sonhado amor à primeira vista ficaria para a segunda rodada. Ou terceira? Era melhor assegurar logo a independência financeira, quem sabe. As dúvidas afligiram-na, impediram qualquer tentativa de compra.</p>
<p>Como as lingeries lhe travassem o pensamento, Maria Lucilene decidiu deixar o estabelecimento para definir prioridades, lâmpada à tiracolo e cesta de compras vazia.</p>
<p>Foi quando o alerta de furto apitou. Tal dádiva mística custava R$ 69,90. Por esse preço, melhor levar levar calcinha nova, algemas e chibata. E assim ela fez, a lâmpada que se danasse.</p>
Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-7666769401443645562013-01-17T00:38:00.000-02:002013-01-19T03:53:49.215-02:00Conto do pardal<div>De segunda a sexta-feira, sempre ao cair da noite, aquela negra passava apressada, displicente; imprudente, até. </div><div><br />
</div><div>Tudo o que ele podia fazer era jogar uma piscadela — e dessa forma agia diariamente, incansável. Imóvel ao lado da pista, não perdia qualquer chance de flagrá-la.</div><div><br />
</div><div>E assim cada piscada fazia reluzir a rua, convertia esse momento diário em fotografias inesquecíveis. Por algumas semanas enviou cada um desses retratos a ela, sua razão de existir, e não obteve resposta.</div><div><br />
</div><div>Até que certo dia a caminhonete foi apreendida por excesso de multas em uma blitz do Detran. O radar fixo jamais a viu novamente.</div>Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-45476945409684225152013-01-15T01:41:00.001-02:002013-01-15T01:41:14.903-02:00Mega-Sena acumulada<p>Juliane orquestrou o plano perfeito, a quarta-feira seria libertadora. Deixou o fulano esperando, abriu o site da Caixa e atualizou a página 14 vezes. Frustrada de pobre, chorou. Catou o telefone e se libertou para a quarta-feira.</p>
Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-36146686377479073002013-01-11T02:07:00.001-02:002013-01-11T02:07:04.924-02:00Haicai (3)<p>Vil autoabandono<br>
Cabotino, imposto, otário<br>
Velha cor-de-outono</p>
Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-24749628324061246572013-01-09T01:20:00.001-02:002013-01-09T01:35:57.386-02:00Haicai (2)<p>Que de tão confluente<br>
Sente escondido, dormente<br>
Com pendor ao poente</p>
Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-32086391496348539712013-01-06T21:03:00.000-02:002013-01-22T04:23:58.793-02:00Haicai<p>Então veio a noite,<br>
Cansou de se fazer claro,<br>
Voltou a tirar leite</p>
Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-60222795621221457272013-01-02T01:35:00.001-02:002013-01-02T01:42:32.349-02:00Branco no preto<p>E então notou, no mesmo fiapo de segundo, um fio branco no cabelo e outro na barba. A ficha caiu de arrancada: os anos passavam, estavam certos.</p>
<p>Quando puxou o pensamento, a mente sangrou um bocado. Deu uma coceira no eu-lírico. E então, perdido, eureca!, descobriu que vinha aparando o português sem nem perceber.</p>
<p>Sovina, encurtava as orações a ponto de levar Deus a um bar para beber esses tempos difíceis. E sabe-se lá quantos períodos levou até conseguir colocar o preto no branco. Comemorou, mesmo assim. Pelo menos agora não faltaria mais branco.</p>
Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-13553067790436697332011-10-24T00:16:00.001-02:002011-10-24T00:16:36.683-02:00Tempos de poesiaTornato a casa<br />
Le luci accese per contagocce<br />
Le mie sono ancora spente<br />
L'anima silente aspetta il corpo<br />
Quest'esta non si adatta al cuore<br />
Comunque vada la vita va avanti<br />
La vita scorre<br />
La vita è vissuta<br />
Come se fosse vivace da sola<br />
La vita corre<br />
La vita è perduta<br />
Come se appartenesse solo ad un'asola<br />
L'invita alla croce<br />
L'invita alla caduta<br />
Vita! C'hai vinto<br />
Lasciami vivere<br />
<br />Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-27707993630942958172011-09-28T19:52:00.001-03:002011-09-28T19:52:24.818-03:00(sem título), 2Passa o presente que se prende ao passado.Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-72248126755203859442011-09-27T22:56:00.000-03:002011-09-27T22:56:05.867-03:00(sem título)Encara o branco como o branco te alveja ao ser notado.Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-49943810025062269982011-08-11T03:03:00.000-03:002011-08-11T03:03:11.099-03:00Conto do novo acordo ortográficoNua em pelo, Maurícia atacou a geladeira tarde da noite. Perdida em sua frequente autoanálise, comia uma pera enquanto aquecia uns garapaus açorianos no micro-ondas. Não havia ali plateia para dividir tal cena. Em um ato heroico, Maurícia levantou voo para que pudesse fugir, tranquila, de si mesma. Reflexo da paranoia iniciada na estreia de sua última exposição, uma feiura que só.Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-62693041181384753242011-08-10T00:35:00.003-03:002011-08-10T03:15:37.089-03:00Cada louco com sua maniaMariana colecionava selos.<br />
Roberto colecionava flautas.<br />
Bianca colecionava mapas.<br />
Henrique colecionava latas de cerveja.<br />
Mariana namorava Roberto.<br />
Bianca namorava Henrique.<br />
Roberto largou Mariana.<br />
Bianca deixou Henrique por Mariana.<br />
Roberto se engraçou com Henrique.<br />
Henrique deu um pé em Roberto.<br />
Roberto se matou.<br />
Henrique voltou com Bianca.<br />
Mariana esteve com os dois.<br />
Bianca se mudou.<br />
Henrique decidiu ir junto.<br />
Mariana matou Henrique, era muito grudenta.Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-68334826134076608372011-08-09T23:02:00.003-03:002011-08-10T03:15:43.168-03:00Fugiu da rotinaSegunda-feira. Fábio acordou, tomou café na padaria, levou o cachorro ao veterinário, voltou para casa, jogou Wii, almoçou com a namorada, procurou emprego nos classificados, dormiu, esperou por três horas uns primos chegarem na rodoviária, comeu qualquer besteira, assistiu TV, fez cruzadinhas, dormiu de novo.<br />
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Terça-feira. Fábio acordou, tomou café na padaria, entregou uns currículos, voltou para casa, jogou Wii, almoçou com a namorada, procurou emprego nos classificados, dormiu, procurou por três horas uma calça que o servisse, esquentou uma pizza do fim de semana, assistiu TV, fez um sudoku, dormiu de novo.<br />
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Quarta-feira. Fábio acordou, tomou café na padaria, cortou o cabelo, voltou para casa, jogou Wii, almoçou com a namorada, procurou emprego nos classificados, dormiu, foi ao banco, viu um assalto ser anunciado, levou um tiro na cabeça, morreu na hora, aguardou por três horas a perícia.Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-72750266669872563912011-08-08T23:01:00.004-03:002011-08-10T03:15:53.388-03:00Duelo em oito notasMarta e Danilo foram ao karaoke.<br />
"Eu quis dizer, você não quis escutar", disparou a moça.<br />
"Meu vício agora é o passar do tempo", rebateu o rapaz.<br />
"Sempre precisei de um pouco de atenção", implorou.<br />
"Nessa vida passageira, eu sou eu, você é você", bradou.<br />
"Que culpa a gente tem de ser feliz? Que culpa a gente tem, meu bem?", questionou.<br />
"A lua me chama, eu tenho que ir pra rua", insistiu.<br />
"Nunca acreditei na ilusão de ter você pra mim", chorou.<br />
"Faz parte do meu show, meu amor."Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-3957995560627465792011-04-24T08:44:00.006-03:002011-08-10T03:40:08.627-03:00Faroeste caboclo para jornalistasDois homens e uma mulher morreram durante um tiroteio em Ceilândia, na tarde de ontem. Dezenas de testemunhas presenciaram o crime. Os disparos ocorreram em frente a um lote vago, no conjunto F da QNM 11. O trio teria envolvimento com o tráfico de drogas da cidade, de acordo com a polícia.<br />
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Moradores afirmaram que os homens teriam chegado ao local por volta das 14h de ontem e já eram esperados por alguns curiosos - o duelo havia sido anunciado um dia antes. No primeiro movimento, Jeremias Alves Souza, 26 anos, atirou nas costas de João Campos, 23, conhecido como João de Santo Cristo. Com um rifle calibre .22, a vítima revidou, com cinco disparos. Os dois morreram no local. Maria Lúcia Souza, 22, casada com Jeremias, suicidou-se com a mesma arma.<br />
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"Foi tudo muito rápido. O Santo Cristo levou um tiro e começou a gritar que homem não atira pelas costas", conta a dona de casa Antônia Rodrigues, que lavava a calçada de casa quando o tiroteio começou. "Quando o outro olhou, o Santo Cristo deu o primeiro tiro. Depois, foram pelo menos mais uns quatro." O comerciante Miguel Gomes se emocionou ao lembrar da cena: "Se o nome dele é João de Santo Cristo, ele é santo porque sabe morrer".<br />
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Para o chefe da 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia), Alexandre Marques, as mortes seriam reflexo da disputa por território para o tráfico de drogas: "Santo Cristo dominava a venda de entorpecentes em Planaltina e tentava avançar para Taguatinga, área de Jeremias. Para se vingar, Jeremias teve um filho com a noiva de Santo Cristo". O bebê, de oito meses de idade, foi encaminhado para um abrigo.<br />
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<b>Infância</b><br />
João de Santo Cristo causava problemas desde criança, revelou ao <b>blag, blergh, blog </b>uma tia da vítima, que pediu para não se identificar. "Quando ele morava no interior da Bahia, falava que seria bandido pra vingar o pai, que um soldado matou. O menino era o terror da cidade, roubava até o altar da igreja", disse.<br />
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A mudança para o Distrito Federal não acalmou os ânimos de Santo Cristo, que tinha passagem na polícia por roubo e tráfico de drogas. Ele se mudou para Taguatinga há sete anos, quando começou a trabalhar como carpinteiro. "O João ganhou esse apelido quando se envolveu com um traficante peruano", contou a tia. O delegado responsável pelo caso confirmou a informação: "Este suspeito é conhecido somente como Pablo, e está foragido. Ele traz cocaína da Bolívia e tudo o que podemos dizer é que está sendo investigado".<br />
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Para Marques, o tráfico de drogas em algumas cidades do Distrito Federal deve ficar abalado nos próximos meses. "Estes dois homens que morreram tinham controle de várias bocas de fumo. Vamos aproveitar que as áreas estão enfraquecidas para retomá-las", informou o delegado.Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6554440138132049654.post-1581011947291548132011-04-12T01:59:00.002-03:002011-04-12T02:04:15.425-03:00O dia em que errei meu lideEm um jornal diário, 17h30 não costuma ser hora de ir pra rua. Foi quando surgiu uma pauta meio batida: falar de uma família que perdeu tudo por conta da chuva que castigou o DF neste domingo. Coisa simples. Ligar para a Defesa Civil, tentar achar um dos moradores por telefone e bater algumas linhas. Mas, como eu nunca tinha feito matéria do tipo, falei que iria a São Sebastião. Preferiria ver o drama da família de perto e conversar pessoalmente, mesmo sabendo que o relógio não para e o tempo para escrever seria curtíssimo.<br />
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Quando cheguei à rua 44, muitos minutos depois, o sol já tinha ido embora. Ao entrar na casa, começou o choque. Nenhuma faculdade te prepara para entrevistar uma família que perdeu tudo na chuva. Você é um agente externo que fará inúmeras perguntas difíceis em um curto espaço de tempo. Um estranho que tentará ouvir da família aquilo que eles só contarão para os amigos daqui a muito tempo.<br />
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Logo na entrada, Ana Lídia me recebeu muito bem. Mesmo abatida, mostrou tudo o que tinha perdido, os esforços da família para salvar o que fosse possível e me apresentou à sua filhinha, que fazia o enterro do periquito que morrera no desastre. A enxurrada que chegou a quase 2 metros de altura fez a família de 11 pessoas perder toda a comida que tinha estocada, todos os eletrodomésticos, todas as roupas, um armário novinho, um bom pedaço da parede e o periquito de estimação da filhinha de Ana Lídia.<br />
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Mas só uma coisa habitava minha cabeça: como eles ainda estavam ali se a Defesa Civil havia interditado a casa? Geraldo me explicou que a família tinha sido praticamente despejada, mas não tinha para onde ir. Entre ir para um abrigo improvisado no ginásio da cidade e ficar em casa, melhor ficar em casa. E o risco de desabamento? Agora é orar para que a chuva pare, responderam. Sim, mesmo com a casa correndo risco de cair. É casa própria, argumentaram.<br />
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Segundo o Instituto Nacional de Metereologia, Brasília receberá chuva nos três próximos dias. Como decidi fazer um texto menos carregado na emoção (ou simplesmente mais distante), minha notícia era a família que continua em uma área interditada pela Defesa Civil. Ou seja, mais uma destas matérias que começam sem graça e se tornam apenas mais uma.<br />
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Só depois percebi que, para fazer isso, poderia apenas ter falado com eles por telefone. A morte do periquito, que entrou só no último parágrafo, era o trunfo que eu tinha. Numa hora dessas é que o olho do repórter faz diferença. Para tornar a história humana, e sem apelar, poderia ter escolhido como lide o triste funeral do periquito. Afinal, não são estas pequenas coisas que fazem a vida ganhar sentido?Braitner Moreirahttp://www.blogger.com/profile/12087615184991203190noreply@blogger.com0