22.4.09

Pamonha!

Lembro-me como se fosse amanhã quando a família se reuniu na casa de vovó num dia qualquer de 1992 para aproveitar a temporada de milho e unir todos os credos daquele pessoal em torno de uma só razão: a pamonha. O puro creme do milho verde. Quente, fresco e caseiro. E com gosto da tardinha de sexta-feira correndo no alpendre da casa de vovó. Afinal, nada mais mineiro que família grande, adultos fazendo pamonha, crianças correndo no alpendre e uma ou outra com aquela tal de idéia de jerico pra tentar implodir todo o plano-sequência planejado pela vovó.

Pois, naquele dia fatídico, deixei de lado minha missão narrativa para me concentrar em um confronto individual com o Lucas. Ele pisou no meu pé. Eu chutei o joelho dele. Que puxou meu cabelo. E teve sua orelha mordida. E se aproveitou disso pra tentar me enforcar e conseguir pelo menos sufocar meu grito por qualquer uma das mulheres da família que nem estavam assim tão longe mas ainda assim não ouviam nada. Mas ufa. A bandeira branca da trégua valia pela batalha, não pela guerra.

Porque toda criança de dois ou três anos sabe que a verdadeira guerra é pela atenção dos adultos. A relação entre os outros pirralhos não importa muito se a vovó corre pra acudir pouco antes da panela de água fervente cair em cima de você. E para recuperar o terreno provando a superioridade, a carta na manga era melhor que um Coringa qualquer: o Batman.

E enquanto as mulheres separavam e empilhavam e enchiam e amarravam e ferviam as palhas cheias daquele creme de milho, o espírito de super-herói fez nosso pequeno anti-herói se desvencilhar do Lucas e pular no sofá para alcançar aquela janela que, vista do alpendre, era maior do que qualquer um dos tios da família. Do alto daqueles dois metros, uns cabelinhos meio loiros gritaram "Eu sou o Batman!" ao mesmo tempo em que o vento os consumia e mamãe e vovó só não corriam em sua direção mais rápido do que o próprio piso do alpendre.

Papai garantiu que o protótipo de Batman era mais pamonha do que o milho que cozinhava na panela em mais uma das sextas-feiras quaisquer de colheita. Com razão. Só no filme de 2005 é que resolveram fazer com que o Bruce Wayne voasse. Até lá, a queda era garantida. Esperta era mamãe, que aconselhou seu pequeno a se identificar como Clark Kent no próximo salto.

2 comentários:

Gabriel Cunha disse...

Eu também era o batman! Mas tinha um ódio mortal do Clark Kent. Acho que daí veio minha raivinha de personagens principais.

Clara Campoli disse...

Esse é o meu namorado.