No fim do século XIX, ao mesmo tempo em que um norte-americano qualquer deixava seu país rumo à Espanha, em Lisboa um garotinho de doze anos arrumava sua trouxa de roupas para se engajar como ajudante de cozinha num dos veleiros que partiriam para o Brasil. Os dois nunca se conheceram.
O que importa é que o veleiro demoraria mais de um mês para chegar ao Rio de Janeiro. O suficiente para o americano alcançar Talavera de La Reina, vilarejo no qual ninguém falava inglês, mas não media esforços para fazer as vontades do gringo e de seu dinheiro, que insistiam: “I like to go on Tijo”. O condutor do tílburi custou, mas entendeu e gastou as rodas e as patas do cavalo até levá-lo ao rio Tejo, que banha a cidade. Emocionado por ver o rio do qual seu pai tanto falava, não parava de chorar e repetir que gostava “so much go on Tijo”. O carroceiro guardou aquela pronúncia fanha na memória e, na semana seguinte, pediu à filha que batizasse sua primeira neta com o nome de America Gontijo, para homenagear o gringo.
Enquanto a pequena espanhola nascia, António Moreira chegava ao Rio para trabalhar no comércio de um amigo de seu pai, no alto de seus doze anos. Não precisou de muito tempo para arrumar confusão com aquele homem enérgico e fugir para o interior do país. Gastou anos, mas conseguiu emprego como caseiro numa fazenda na região do rio Abaeté. E mais alguns anos até ganhar a confiança da família e ser digno da função de capataz e da mão de uma das sobrinhas do fazendeiro.
O casamento do Moreira gastou mais de ano para virar realidade, mas de boca a boca sua festa já causava alvoroço em toda a região do Abaeté. Tumulto maior só vivia a região de Castela, no auge da Guerra Civil Espanhola. America Gontijo foi uma das que deixou seu país às pressas e não teve muita opção além de pegar o primeiro navio para o continente que lhe dera o nome e desembarcar no Brasil.
As duas histórias foram unidas pelo destino ou por algo ainda mais etéreo quando a matriarca resolveu que a porção dos Gontijo no Brasil tentaria a sorte nas Minas Gerais, publicamente já sem ouro, mas agora com tanto gado, soja e café. O primeiro resultado do casamento do Moreira foi um espirituoso José Olímpio. E das desventuras da America espanhola pela América já brasileira, o último fruto foi Porcelina. Mal poderiam sonhar que setenta anos depois as duas famílias se uniriam no noroeste do estado para juntar um nome alemão a essa história interminável.
2 comentários:
nome alemão... parente da Europa... Dos EUA... para de querer ser chique, rapaz!
Pois é. E esse cabelo sarará veio de onde, heim? :P
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