Quatro mil quatrocentos e noventa e sete. Quatro mil quatrocentos e noventa e oito. Quatro mil quatrocentos e noventa e nove. Cinco mil. Ítalo respirou fundo e lá vou eu. E lá foi ele olhar em volta e ver tudo o que tinha à sua volta. Voltar os olhos para o nada, encontrando tudo o que via e sem saber quando parar. Ítalo estava sozinho, cinco mil vezes depois de não ver todos saírem correndo. Não sabia onde procurar. E o pique era seu.
O pique era seu. Afinal, foi a onça quem lhe deu. Quem saísse do pique estava pego, mas a cidade era grande demais para uma brincadeira de criança. A parede na qual fizera o tempo passar era seu reduto e agora só a ela se resumia sua cidade. Quando Ítalo deu as costas para que os outros fugissem em paz, viu que isso a onça não tinha planejado. E a cidade não era sua.
Um bêbado tropeçava nas próprias pernas sem fazer cair a garrafa. Um bebê chorava sob o sol enquanto sua mãe clamava por moedas. Uma estátua agradecia os passantes pelas moedas recebidas. Não, não era isso que procurava. Um carro atropelava um garoto que fugia desabalado de uma senhora que gritava a polícia que só queria multar o motorista. Mas não era isso que tinha se escondido.
Não conseguia focar no que tinha deixado para trás ao virar as costas e deixar deixarem-no para trás. Quando resolveu contar sem fazer as contas do que iria perder, não sabia olhar para si. Olhar por cima e, ainda correndo sob o sol fustigante da cidade em busca dos desaparecidos, entrar naquela sala escura onde um corpo descansava entre o choro seco de três carpideiras. Foi quando finalmente se encontrou imóvel para sempre e percebeu que todo esse tempo estava buscando quem nunca tinha lhe encontrado.
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