Este 2017 servirá para entender a extensão da parceria entre Donald Trump e Vladimir Putin. Será o ano de Marine Le Pen na França, de Geert Wilders na Holanda, da ameaça populista Nicolás Larraín no Chile. Da mundialização do Estado Islâmico, do estouro da bolha imobiliária chinesa, do esgotamento da política monetária do Banco Central Europeu.
E os problemas lá de fora continuarão a nos acossar — como se fosse necessário. No ano em que ainda mais estados terão dificuldade para pagar o funcionalismo, testemunharemos o ápice do desemprego, as greves inevitáveis por causa das negociações salariais paralisadas, o PIB provavelmente em queda por mais um ano. E o Brasil terá de fazer as contas com qualquer que seja a decisão do Tribunal Superior Eleitoral no processo que pode tirar Michel Temer da presidência.
Num mundo dominado por caixas de comentários do Facebook e grupos de WhatsApp, não haverá como fugir do acirramento que virou o tal “Fla-Flu político”. Ainda que, em tantas famílias e reuniões de amigos, o confronto esteja mais para Al Ahly x Zamalek, o clássico egípcio que registrou feridos e presos em todas as partidas desta década.
Mas nada é só preto. Nada é só branco. Para além do dualismo infrutífero, surge uma zona cinzenta, na qual estamos todos, escritor e leitor, nossos heróis e vilões. E deve haver, sobretudo, a zona flicts, longe desse matiz intermediário.
Flicts é aquela cor frágil, rara, criada por Ziraldo há meio século para protagonizar o primeiro livro infantil do cartunista que se consagraria com o Menino Maluquinho e a Turma do Pererê. Flicts não conseguia se encaixar em arco-íris, bandeiras, lugar nenhum. A história mostra a saga de uma cor em busca de seu lugar no universo.
Nem só de petralhas é composta a esquerda; a direita vai além dos barulhentos bolsominions. E entre as duas há uma lacuna muito maior do que o centro isentão. Você é flicts.
Para os de exatas, Flicts é a combinação 212,145,38 na escala RGB. Para quem é de humanas mesmo, é um tom pastel, baunilha meio escuro, talvez amarelo-queimado, com um toque de açafrão, um quê de cobre. Cada pai teve uma resposta diferente para o “que cor é essa?” dos baixinhos que não aceitavam flicts enquanto nome de uma tinta, exigindo uma palavra consagrada pela escala Pantone. Flicts é a cor de todos nós, ainda que não a enxerguemos. Que seja o tom de 2017.
Artigo publicado no Correio Braziliense de 2 de janeiro de 2017
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