Dois homens e uma mulher morreram durante um tiroteio em Ceilândia, na tarde de ontem. Dezenas de testemunhas presenciaram o crime. Os disparos ocorreram em frente a um lote vago, no conjunto F da QNM 11. O trio teria envolvimento com o tráfico de drogas da cidade, de acordo com a polícia.
Moradores afirmaram que os homens teriam chegado ao local por volta das 14h de ontem e já eram esperados por alguns curiosos - o duelo havia sido anunciado um dia antes. No primeiro movimento, Jeremias Alves Souza, 26 anos, atirou nas costas de João Campos, 23, conhecido como João de Santo Cristo. Com um rifle calibre .22, a vítima revidou, com cinco disparos. Os dois morreram no local. Maria Lúcia Souza, 22, casada com Jeremias, suicidou-se com a mesma arma.
"Foi tudo muito rápido. O Santo Cristo levou um tiro e começou a gritar que homem não atira pelas costas", conta a dona de casa Antônia Rodrigues, que lavava a calçada de casa quando o tiroteio começou. "Quando o outro olhou, o Santo Cristo deu o primeiro tiro. Depois, foram pelo menos mais uns quatro." O comerciante Miguel Gomes se emocionou ao lembrar da cena: "Se o nome dele é João de Santo Cristo, ele é santo porque sabe morrer".
Para o chefe da 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia), Alexandre Marques, as mortes seriam reflexo da disputa por território para o tráfico de drogas: "Santo Cristo dominava a venda de entorpecentes em Planaltina e tentava avançar para Taguatinga, área de Jeremias. Para se vingar, Jeremias teve um filho com a noiva de Santo Cristo". O bebê, de oito meses de idade, foi encaminhado para um abrigo.
Infância
João de Santo Cristo causava problemas desde criança, revelou ao blag, blergh, blog uma tia da vítima, que pediu para não se identificar. "Quando ele morava no interior da Bahia, falava que seria bandido pra vingar o pai, que um soldado matou. O menino era o terror da cidade, roubava até o altar da igreja", disse.
A mudança para o Distrito Federal não acalmou os ânimos de Santo Cristo, que tinha passagem na polícia por roubo e tráfico de drogas. Ele se mudou para Taguatinga há sete anos, quando começou a trabalhar como carpinteiro. "O João ganhou esse apelido quando se envolveu com um traficante peruano", contou a tia. O delegado responsável pelo caso confirmou a informação: "Este suspeito é conhecido somente como Pablo, e está foragido. Ele traz cocaína da Bolívia e tudo o que podemos dizer é que está sendo investigado".
Para Marques, o tráfico de drogas em algumas cidades do Distrito Federal deve ficar abalado nos próximos meses. "Estes dois homens que morreram tinham controle de várias bocas de fumo. Vamos aproveitar que as áreas estão enfraquecidas para retomá-las", informou o delegado.
24.4.11
12.4.11
O dia em que errei meu lide
Em um jornal diário, 17h30 não costuma ser hora de ir pra rua. Foi quando surgiu uma pauta meio batida: falar de uma família que perdeu tudo por conta da chuva que castigou o DF neste domingo. Coisa simples. Ligar para a Defesa Civil, tentar achar um dos moradores por telefone e bater algumas linhas. Mas, como eu nunca tinha feito matéria do tipo, falei que iria a São Sebastião. Preferiria ver o drama da família de perto e conversar pessoalmente, mesmo sabendo que o relógio não para e o tempo para escrever seria curtíssimo.
Quando cheguei à rua 44, muitos minutos depois, o sol já tinha ido embora. Ao entrar na casa, começou o choque. Nenhuma faculdade te prepara para entrevistar uma família que perdeu tudo na chuva. Você é um agente externo que fará inúmeras perguntas difíceis em um curto espaço de tempo. Um estranho que tentará ouvir da família aquilo que eles só contarão para os amigos daqui a muito tempo.
Logo na entrada, Ana Lídia me recebeu muito bem. Mesmo abatida, mostrou tudo o que tinha perdido, os esforços da família para salvar o que fosse possível e me apresentou à sua filhinha, que fazia o enterro do periquito que morrera no desastre. A enxurrada que chegou a quase 2 metros de altura fez a família de 11 pessoas perder toda a comida que tinha estocada, todos os eletrodomésticos, todas as roupas, um armário novinho, um bom pedaço da parede e o periquito de estimação da filhinha de Ana Lídia.
Mas só uma coisa habitava minha cabeça: como eles ainda estavam ali se a Defesa Civil havia interditado a casa? Geraldo me explicou que a família tinha sido praticamente despejada, mas não tinha para onde ir. Entre ir para um abrigo improvisado no ginásio da cidade e ficar em casa, melhor ficar em casa. E o risco de desabamento? Agora é orar para que a chuva pare, responderam. Sim, mesmo com a casa correndo risco de cair. É casa própria, argumentaram.
Segundo o Instituto Nacional de Metereologia, Brasília receberá chuva nos três próximos dias. Como decidi fazer um texto menos carregado na emoção (ou simplesmente mais distante), minha notícia era a família que continua em uma área interditada pela Defesa Civil. Ou seja, mais uma destas matérias que começam sem graça e se tornam apenas mais uma.
Só depois percebi que, para fazer isso, poderia apenas ter falado com eles por telefone. A morte do periquito, que entrou só no último parágrafo, era o trunfo que eu tinha. Numa hora dessas é que o olho do repórter faz diferença. Para tornar a história humana, e sem apelar, poderia ter escolhido como lide o triste funeral do periquito. Afinal, não são estas pequenas coisas que fazem a vida ganhar sentido?
Quando cheguei à rua 44, muitos minutos depois, o sol já tinha ido embora. Ao entrar na casa, começou o choque. Nenhuma faculdade te prepara para entrevistar uma família que perdeu tudo na chuva. Você é um agente externo que fará inúmeras perguntas difíceis em um curto espaço de tempo. Um estranho que tentará ouvir da família aquilo que eles só contarão para os amigos daqui a muito tempo.
Logo na entrada, Ana Lídia me recebeu muito bem. Mesmo abatida, mostrou tudo o que tinha perdido, os esforços da família para salvar o que fosse possível e me apresentou à sua filhinha, que fazia o enterro do periquito que morrera no desastre. A enxurrada que chegou a quase 2 metros de altura fez a família de 11 pessoas perder toda a comida que tinha estocada, todos os eletrodomésticos, todas as roupas, um armário novinho, um bom pedaço da parede e o periquito de estimação da filhinha de Ana Lídia.
Mas só uma coisa habitava minha cabeça: como eles ainda estavam ali se a Defesa Civil havia interditado a casa? Geraldo me explicou que a família tinha sido praticamente despejada, mas não tinha para onde ir. Entre ir para um abrigo improvisado no ginásio da cidade e ficar em casa, melhor ficar em casa. E o risco de desabamento? Agora é orar para que a chuva pare, responderam. Sim, mesmo com a casa correndo risco de cair. É casa própria, argumentaram.
Segundo o Instituto Nacional de Metereologia, Brasília receberá chuva nos três próximos dias. Como decidi fazer um texto menos carregado na emoção (ou simplesmente mais distante), minha notícia era a família que continua em uma área interditada pela Defesa Civil. Ou seja, mais uma destas matérias que começam sem graça e se tornam apenas mais uma.
Só depois percebi que, para fazer isso, poderia apenas ter falado com eles por telefone. A morte do periquito, que entrou só no último parágrafo, era o trunfo que eu tinha. Numa hora dessas é que o olho do repórter faz diferença. Para tornar a história humana, e sem apelar, poderia ter escolhido como lide o triste funeral do periquito. Afinal, não são estas pequenas coisas que fazem a vida ganhar sentido?
7.4.11
O intrigante caso da padaria Torres
A família Gauthier é riquíssima, dona de um conglomerado alimentício composto por bares, padarias, lanchonetes e restaurantes em várias cidades do país. Falaremos hoje da panificadora Torres, sediada em Tubiacanga. Ela é o carro-chefe da Gauthier Ltda. na cidade.
A prefeitura municipal de Tubiacanga comprava pães franceses, roscas, brioches, sucos e refrigentes na panificadora Torres há décadas. Faz um ano que deixou de encomendar os brioches e os sucos, o que balançou o rendimento da empresa. Como é difícil vender brioche, o lucro da família Gauthier nesta padaria diminuiu um pouco, mas a Torres continuou a fechar no azul.
Por algum motivo, porém, a direção da Gauthier Ltda. considerou inaceitável essa queda de rendimento. Depois de muito discutir, resolveu que era hora de agir. De uma tacada, demitiu o coordenador da produção da panificadora, dois gerentes e seis padeiros. A família Gauthier estava certa de que era a melhor opção. Ela considerava que a produção ali havia caído bastante, então faria sentido diminuir o tamanho da cozinha mesmo com a demanda aumentando dia após dia.
Para substituir os demitidos, o quitandeiro da lanchonete Vida Legal passou um dia na panificadora Torres, um dos padeiros passou a gerenciar a produção e os balconistas, que até então assavam pães apenas como aprendizado, começaram a fazer brioches e roscas enquanto atendiam ao público. Insatisfeitos, todos mudaram de trabalho nos meses seguintes. Para a família Gauthier, não faz mal. Ela mora longe de Tubiacanga e a economia valeu a pena. A panificadora continua ali, com novos padeiros-balconistas.
A prefeitura municipal de Tubiacanga comprava pães franceses, roscas, brioches, sucos e refrigentes na panificadora Torres há décadas. Faz um ano que deixou de encomendar os brioches e os sucos, o que balançou o rendimento da empresa. Como é difícil vender brioche, o lucro da família Gauthier nesta padaria diminuiu um pouco, mas a Torres continuou a fechar no azul.
Por algum motivo, porém, a direção da Gauthier Ltda. considerou inaceitável essa queda de rendimento. Depois de muito discutir, resolveu que era hora de agir. De uma tacada, demitiu o coordenador da produção da panificadora, dois gerentes e seis padeiros. A família Gauthier estava certa de que era a melhor opção. Ela considerava que a produção ali havia caído bastante, então faria sentido diminuir o tamanho da cozinha mesmo com a demanda aumentando dia após dia.
Para substituir os demitidos, o quitandeiro da lanchonete Vida Legal passou um dia na panificadora Torres, um dos padeiros passou a gerenciar a produção e os balconistas, que até então assavam pães apenas como aprendizado, começaram a fazer brioches e roscas enquanto atendiam ao público. Insatisfeitos, todos mudaram de trabalho nos meses seguintes. Para a família Gauthier, não faz mal. Ela mora longe de Tubiacanga e a economia valeu a pena. A panificadora continua ali, com novos padeiros-balconistas.
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