23.4.13
Onésio e Dolores
Companheiro diligente, Onésio jamais saía da sela. Tudo pelo bom sorriso de Dolores. Assim, visitava a roça dezenas de vezes por dia e outro punhado à noite. Quando a lua acendia, Dolores pensava naquele homem. Sumira sem ela perceber. Dos rastros e ciumeiras, só mesmo as lembranças. Parada, voltava a enxergá-lo. Sorria.
Conhecia o amado, não pretendia vê-lo enfastiado. Por isso, todas as noites, se revoltava pela primeira vez com o velho corcunda que vinha deitar-se a seu lado. Onésio vai voltar, te matar e me levar junto, anunciava. O senhor saía sorrindo para o sofá, velava de lá a alienação alheia.
Até o momento em que o jovem Onésio realmente voltou. Buscou Dolores pela mão e ela se foi, feliz. O velho ruiu na cama pela primeira vez em tantos anos. Deixou-a somente ao notar que uma jovem de vestido de flanela listrada o convidava para acompanhá-la. Que belo sorriso, pensou.
18.3.13
Vírgulas self-service
13.2.13
24.1.13
22.1.13
19.1.13
Três pedidos
Marluci encontrou uma lâmpada mágica esquecida entre duas seções do sex shop. Vazia, empoeirada e em busca de algum esfregador, as duas. Escondeu-a na bolsa enquanto tentava encomendar mentalmente três pedidos.
Prioridade era um romance à Anastasia Steele, lhe parecia óbvio. O sonhado amor à primeira vista ficaria para a segunda rodada. Ou terceira? Era melhor assegurar logo a independência financeira, quem sabe. As dúvidas afligiram-na, impediram qualquer tentativa de compra.
Como as lingeries lhe travassem o pensamento, Maria Lucilene decidiu deixar o estabelecimento para definir prioridades, lâmpada à tiracolo e cesta de compras vazia.
Foi quando o alerta de furto apitou. Tal dádiva mística custava R$ 69,90. Por esse preço, melhor levar levar calcinha nova, algemas e chibata. E assim ela fez, a lâmpada que se danasse.
17.1.13
Conto do pardal
15.1.13
Mega-Sena acumulada
Juliane orquestrou o plano perfeito, a quarta-feira seria libertadora. Deixou o fulano esperando, abriu o site da Caixa e atualizou a página 14 vezes. Frustrada de pobre, chorou. Catou o telefone e se libertou para a quarta-feira.
11.1.13
9.1.13
6.1.13
2.1.13
Branco no preto
E então notou, no mesmo fiapo de segundo, um fio branco no cabelo e outro na barba. A ficha caiu de arrancada: os anos passavam, estavam certos.
Quando puxou o pensamento, a mente sangrou um bocado. Deu uma coceira no eu-lírico. E então, perdido, eureca!, descobriu que vinha aparando o português sem nem perceber.
Sovina, encurtava as orações a ponto de levar Deus a um bar para beber esses tempos difíceis. E sabe-se lá quantos períodos levou até conseguir colocar o preto no branco. Comemorou, mesmo assim. Pelo menos agora não faltaria mais branco.